quarta-feira, 29 de julho de 2009

Viver não dói

Deixo-lhes um texto do saudoso Carlos Drummond de Andrade. Podem ter lido várias vezes, mas é a simples realidade. Será que alguma vez paramos pra pensar o real motivo de nossas reclamações? Ou simplesmente reclamamos por não ter outra coisa a fazer... Nada melhor do que revermos nossos erros, e repetir nossos acertos.
A vida seria bem mais simples, se não tivéssemos o Dom de complicá-la.

Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.

Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana,
que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável,
um tempo feliz.

Sofremos por quê?
Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer
pelas nossas projecções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de
ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos,
por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos,
por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado,
e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.
Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco,
mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema,
para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.
Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco,
mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela
nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.
Sofremos não porque nosso time perdeu,
mas pela euforia sufocada.
Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós,
impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.

Como aliviar a dor do que não foi vivido?
A resposta é simples como um verso:
Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos,
nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca,
e que, esquivando-se do sofrimento,
perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional.

Carlos Drummond de Andrade

Um comentário:

Ela no divã disse...

Muitoo bom esse texto! Por isso eu digo, e repito, não criemos espectativas, qndo as coisas não dão certo nos frustramos...é melhor deixar as coisas acontecerem, que surpresas sempre aparecem e tudo fica melhor! Ou não, rsrsrs....mas é verdade, sofremos pq escolhemos isso ou aquilo, ou pq queremos sofrer! To optando por viver! Demorou! Mas cheguei a essa conclusão! hehehe
Beijo